quarta-feira, 27 de junho de 2012

Reis em xeque


(Foto: Nike.com)

Serão duas nações esta noite, que não se distinguem por limites geográficos, hinos ou idiomas. Silêncios nervosos e olhares apreensivos anteciparão um apito inicial e, peça a peça, o tabuleiro se preencherá de maneira uniforme. Pobres reis, enganados por rainhas que sequer existem e expostos no gramado ao julgamento de espectadores apaixonados e maliciosos.

Não nos cabe questionar quem tanto deixa escorrer risos venenosos. As pedras descartadas são inofensivas e deixaram de interferir no movimento do jogo. Existem apenas dois combatentes e uma primeira partida a ter início. Peões alvinegros ficarão dispostos à frente de um exército de bispos, torres, cavalos boquenses. Ainda que, para estes, os xeque-mates sejam mais numerosos, existe algo que os faz irmãos. São times do povo, que deixam a raça transbordar enquanto houver força. Nasceu “do povo a força para lutar”.

Jogador inexperiente como o corintiano deve se esquecer do acaso, da bola que alcança a trave e, como por um sopro de Jorge, atravessa a linha da meta. A sorte, há algum tempo, deixou de fazer parte do jogo. Como em qualquer tabuleiro que se monta, contam somente táticas eficazes e estratégias provocadoras. E, para quem mal conhece as regras, o olhar deve estar aguçado para captar os tropeços do inimigo. A ousadia é o ingrediente que conta para, com o erro do oponente, chegar ao xeque-mate. 

O grito de uma torcida azul e amarela será perturbador, ao que as mentes de onze alvinegros devem manter-se inabaláveis. “Salve o santo guerreiro”, pedem os que hoje aflitos e ansiosos aguardaram por esta noite. O peito estufa quando se lembram do retrospecto que fez este dia chegar. Não há o que temer. É o embate das massas, dos que se ergueram diante da América para disputá-la. 

Vestidos com as roupas e as armas de Jorge” e com cada movimento premeditado, como em um jogo de xadrez, peças valentes se adiantarão para derrubar um rei tradicional, de jogadas inteligentes. Que o riso cesse e que o coração bata forte nesta contagem regressiva lançada há tempo demais.

@mandiml

Inspirado em Xeque-mate, samba-enredo da Gaviões da Fiel em 2002. As citações do texto pertencem a outros sambas-enredo e a Jorge da Capadócia, canção de Jorge Ben Jor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário