quinta-feira, 31 de maio de 2012

Amarga despedida


(Foto: Wesley Santos/Ag. Estado)

Assim que a Justiça se embrenha nos campos de futebol, os discursos rancorosos se elevam e fazem com que desapareça qualquer saudosismo. Não fossem os salários milionários, não haveria novelas entre jogadores e clubes ou processos envolvendo tantas cifras. Desta vez, depois de 74 jogos, 28 gols e um título carioca, Ronaldinho Gaúcho deixa o Flamengo como quer, sem encarar uma espiada pela fresta da porta com receio de olhares perplexos e raivosos.

Estranho pensar na famigerada recepção do jogador, ocorrida em janeiro de 2011. Torcedores sorriram de forma desmedida ao prever os gols, a glória, a ginga de Gaúcho. Ao mesmo tempo, a diretoria calculava a receita do rubro-negro – altos salários, patrocínios, camisas 10 vendidas aos montes, títulos. Quando o futuro é vantajoso assim, não vale a pena crer em um fim dramático como o que acaba de acontecer.

O mesmo clube que aplaudia o ídolo se desdobra para reaver a dívida de R$ 40 milhões que lhe deve. Ronaldinho conseguiu uma liminar na 9º Vara do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro, a partir da qual fica rescindido seu contrato com o clube. Os salários do jogador não eram pagos integralmente desde agosto do ano passado. Que o futebol deixou de ser paixão para virar negócio, tanto se sabe que já soa clichê, mas a predominância de termos contratuais em brigas que envolvem falsas paixões espanta.

A diretoria do Flamengo tem também seu teto de vidro. Os montantes estratosféricos recebidos por jogadores são tão questionáveis quanto a atitude do clube. Desde que a Traffic, antiga responsável por pagar 75% do salário de Gaúcho, deixou o negócio, o jogador continuou recebendo apenas 25%.

Em contrapartida, o rendimento insatisfatório de Ronaldinho Gaúcho em campo é destacado há algum tempo pela torcida. “Ganha muito e joga pouco”, diz o flamenguista. Não é possível dizer se os problemas com a diretoria causaram as atitudes de indisciplina de Ronaldinho ou o contrário. O fato é que a preocupação com o time e com o torcedor parece inexistir quando o saldo bancário não está como deveria. E o caso se repete com frequência no contexto do futebol.

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