quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Libertar as dores

(Foto: Tom Dib/Lancenet.com.br)
Cabeça turbilhona. Peito estufa. Televisão e jornal e rádio e boteco e vizinho e parentes cutucam. Coração dilacerado, retorcido. Estômago virado. As derrotas anteriores soam como gritos vorazes nas mentes de todos que ali estiveram. Os gramados registram marcas de fraqueza em pontos distintos e igualmente dolorosos.

De olhos cansados da mesma cena final, de cortinas fechando-se e aplausos silenciosos, onze outros homens vão ao escuro durante alguns segundos para depois voltarem à realidade. De espírito renovado e pés calejados, o monstro que prostra-se à sua frente parece menor. Os pontos de ataque são conhecidos e, finalmente, o desafio mostra-se vencível.

Apesar do retrospecto desfavorável, de esperanças enfraquecidas, cambaleantes, do peito que força o suspiro, de tantas chances desperdiçadas e da sorte dubitável, outra luta se inicia. A questão há muito deixou de ser cifrões ou troféus. Em tempo, a honra de um plantel, um clube, uma empresa e uma multidão precisa renascer e reerguer-se, com feridas devidamente cicatrizadas e marcas deixadas no passado.

O ambiente é o mesmo, a postura é que mudou. Como em membros fantasmas, a glória parece esconder-se sob a pele e espeta, machuca, dói. A dor permanece ali, enclausurada. Não se vê, mas se sente. Cinco décadas se passaram desde que nasceu o personagem que, sabe-se lá por quais exatos motivos, tomou grandes proporções e amedrontou um time de anões valentes.

(Foto: Márcio Fernandes/AE)
O escudo centenário não reconhecera sua magnitude. Encolhera-se diante da América e aceitara manter a testa sobre os joelhos. “Tira dos olhos do povo a lágrima da humilhação.” Existem, agora, unhas que não mais se roem e feições tensas que se permitem desaparecer por alguns instantes. De dores libertas, a massa busca outra vez Libertadores. 

A somatória de fracassos prematuros ou em ano comemorativo já foi deglutida. Livres da pressão sufocante das circunstâncias, grandes vencedores e um mero aprendiz dão o primeiro passo em pé de igualdade. A diferença talvez esteja num futuro fechar de cortinas. Enquanto outros tomariam a taça com gana e renovariam dados numéricos, uma nação soberana ergueria-se “num choro feliz da emoção”. Felicidade primeira não se esquece ou qualifica.

É de alegria que a tribo louca e soberana pula, grita e canta Corinthians a todo pulmão. Que tira o nó, liberta os demônios e subverte a ira do povo. Dado o fim do espetáculo, aplausos serão audíveis, esteja lá um vencedor ou um derrotado. Que o sangue fervilhe e cabeças mantenham-se ao alto da largada à linha de chegada, rompendo a faixa ou não.

Nação Corinthians by Carlinhos Vergueiro on Grooveshark

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